Compreendendo "The Broad": Um marco na revitalização do centro de Los Angeles

Diferente da maioria das cidades estadunidenses, que passaram o século XX se expandindo radialmente para seu subúrbio, Los Angeles confunde gente de fora porque não possui um centro definido. A sigla "LA" é amplamente utilizada para se referir à uma variedade de pequenas cidades ao longo da baía de Los Angeles que cresceram junto ao longo do tempo. Tradicionalmente, uma grande parte destas localidades foram os centros culturais e os destinos turísticos (Hollywood, Santa Monica, Beverly Hills, Silverlake, etc) Enquanto estes distritos prosperaram, o centro da cidade ficou bastante negligenciado; seus edifícios sedes de grandes financeiras e espaços de comércio passaram por graves questões de ocupação durante a maior parte dos anos 1990 e 2000. Há dez anos atrás, a vida urbana nas ruas do centro da cidade fora do horário comercial é virtualmente inexistente.

Este destino era em grande parte o resultado de um planejamento urbano pobre. A destruição trágica do vibrante bairro residencial Bunker Hill nos anos 60 criou uma série de superquadras ladeadas de rodovias, compostas de lotes vazios que eram destinados às eficientes - e feias - torres modernistas, muitas das quais nunca foram aproveitadas. Até hoje em dia, esta área ainda sofre com lotes vazios. Empreendedores e arquitetos têm considerado o centro da cidade um investimento de retorno arriscado desde então.

O centro da cidade de Los Angeles não apenas era motivo de piadas (Em Uma Família da Pesada: "Não há nada pra fazer no centro!”) mas era também tratado com desdém. Até mesmo Frank Gehry disse uma vez que ele queria que o Walt Disney Concert Hall fosse construído 20 quilômetros de distância de sua localização original, para ser então construído em Westwood (próximo a UCLA). E ainda acrescentou que sentiu que as atuais tentativas de revitalização do centro eram "anacrônicas e prematuras". Ai!

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Courtesy of The Broad and Diller Scofidio + Renfro

Não é de se admirar que quando os proeminentes bilionários colecionadores de arte do sul da Califórnia Eli e Edythe Broad quiseram dar um retorno à cidade financiando um museu de arte contemporâneo de $140 milhões, eles iniciaram sua pesquisa para a localização perfeita. Os Broads consideraram Beverly Hills, Santa Monica, e até Culver City, antes de eventualmente escolher um lote vazio no centro da cidade na Grand Avenue, do outro lado da rua do Disney Concert Hall de Gehry e adjacente à Colburn School e MOCA; provavelmente graças à um forte apelo de um subsídio do governo e um acordo de habitação popular com a Prefeitura.

Courtesy of The Broad and Diller Scofidio + Renfro

Depois de adquirirem o lote, os Broads anunciaram um concurso discreto entre proeminentes escritórios de arquitetura: Diller Scofidio + Renfro, OMA, Herzog & de Meuron, Christian de Portzamparc, e SANAA, com DS+R eventualmente vencendo a disputa. As imagens foram divulgadas e a reação do público foi bastante positiva. O escritório de Nova York apresentou sua eficiente proposta de três pavimentos como "o véu e o cofre" (em inglês, the veil and the vault). A fachada aprovada originalmente emulava uma dramática colmeia paramétrica de concreto protendido branco formando o "véu” - um exoesqueleto dinâmico que atuava como envoltória de todo o edifício e suportava sua cobertura. O "cofre" se refere ao sarcófago de concreto do segundo pavimento suavizado com gesso veneziano que abriga o restante da coleção dos Broad que não estaria em exibição.

A fachada proposta comparada à fachada construída. Imagem superior cortesia de Diller Scofidio + Renfro; bottom image © Iwan Baan

Para qualquer pessoa familiarizada com os renderes originais de Diller Scofidio + Renfro é difícil não ser tomado por um sentimento de decepção quando se observa toda sua estrutura. Você apenas imagina o que poderia ter sido. Mas isso não é culpa dos arquitetos. Os Broads estão atualmente envolvidos em um processo judicial com Seele Inc, a empresa de engenharia alemã responsável pela fabricação da fachada do museu. O desastre resultou em um atraso de 15 meses, um custo extra de $20 milhões, e um projeto arquitetônico que foi por água abaixo. Seele argumentou que a fachada original era muito difícil de ser fabricada, e não resistiria aos terremotos de Los Angeles. O que é uma pena, pois o exterior do edifício é agora muito menos interessante que o projeto original e sofre com constante comparação à notória obra de Gehry logo ao lado. A estrutura atual está longe de ser algo desagradável, mas se não fosse os vizinhos hipsters que fervilham no entorno, não é de se culpar alguém que pensou que The Broad era a ambiciosa nova estrutura de estacionamento do Disney Hall. Tirando a forma de um prisma retangular quase perfeito e a cor uniforme do branco, a padronagem e textura do edifício se tornam extremamente relevante. O apelido mais comum que se ouve por aí é o grande ralador de queijo.

© Iwan Baan

Apesar de seu comprometido exterior, os espaços de galeria de Broad são primorosos. Depois de um dramático passeio pela escada rolante de acesso em um túnel que perfura o cofre, os visitantes se encontram transportados de um apertado lobby para uma arejada galeria principal no terceiro pavimento. É uma verdadeira alegria percorrer o espaço livre de colunas. Centenas de elementos de proteção solar ativados por sensores que estão incorporados à cobertura refletem iluminação natural indireta no espaço através de uma série de claraboias no 'véu', iluminando as obras de arte de maneira natural e uniforme. Quando os visitantes saem da galeria principal, podem pegar um elevador cilíndrico de vidro para voltar ao 'cofre' ou descer pelas escadarias que contam com aberturas como as de embarcações submarinas onde é possível espiar as mais de 2000 obras de artes expostas abaixo. A escadaria te leva de volta ao hall de entrada onde é possível sair através da loja de presentes.

© Iwan Baan

Toda a experiência possui um senso de informalidade bem característico da Costa Oeste estadunidense, e é francamente refrescante, especialmente comparado aos docentes do Los Angeles County Museum of Art (LACMA) que parecem latir pra você se olhar muito intensamente para uma obra de arte. (Será que eles tem ideia de quão fora de contexto é isso?) Na casa de Eli e Edythe, os frequentadores de museus podem realmente interagir, se perder e passar o dia dentro do The Broad, o que por si só já faz do edifício um sucesso.

Assim como para a coleção em si: sou um grande fã de Basquiat, Haring, Lichtenstein, e Warhol. Eu sobreviveria sem os escândalos de Jeff Koons.

© Iwan Baan

Não importa o que se pensa da arquitetura do Broad, uma grande massa de pessoas esperando para ver que todo este burburinho é sobre um belo espetáculo para ser visto, especialmente considerando que o terreno era um estacionamento vazio há alguns anos atrás. Minha primeira tentativa para entrar no The Broad me deixou na fila sob um viaduto por mais de duas horas e acabei desistindo. Na próxima vez fui mais esperto e realmente obtive um ingresso. O lugar ainda é disputado - até esta publicação, os ingressos estavam esgotados até Maio - e deve continuar assim ao longo de 2016. Tudo que possa levar os moradores de Los Angeles a caminhar para o centro da cidade por algum motivo que não é o serviço do júri é bem-vindo em meu livro.

© Jeff Duran - Warren Air

O Museu The Broad tem entrada livre, mas é preciso fazer reservas on line.

Thomas Musca foi o curador assistente na exposição de 2013 no Museu de Arquitetura e Design chamada Nunca Construído: Los Angeles (no original, Never Built: Los Angeles). Atualmente estuda arquitetura na Cornell University.

Sobre este autor
Cita: Musca, Thomas. "Compreendendo "The Broad": Um marco na revitalização do centro de Los Angeles" [Making Sense of The Broad: A Milestone in the Revitalization of Downtown Los Angeles] 11 Mar 2016. ArchDaily Brasil. (Trad. Santiago Pedrotti, Gabriel) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/783243/making-sense-of-the-broad-um-marco-na-revitalizacao-do-centro-de-los-angeles> ISSN 0719-8906

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